Visita de Estudo: Mónica Guerra - Doçaria Regional
Por Aquiles Marreiros (formador)
No âmbito do Módulo - Algarve, Produtos e Ofícios, Tradição e Inovação, realizou-se no passado dia 19 de Setembro mais uma visita de estudo à empresa Mónica Guerra Bolos Regionais sedeada no Sítio do Tesoureiro em São Brás de Alportel.
A experiência de Mónica Guerra nas lides gastronómicas, nomeadamente ao nível da doçaria, já ultrapassa uma década. Tudo começou pelo gosto que lhe foi incutido por familiares e amigos que lhe souberam transmitir os saberes necessários à concretização da maior parte das receitas que ainda hoje executa com o mesmo rigor e dedicação de há anos, e que com ela transporta até aos dias de hoje.
As primeiras provas foram dadas na Pousada de Portugal em São Brás de Alportel, onde, com tenra idade assumiu a responsabilidade de confecção da doçaria regional. Aí, distinguiu-se ao ponto de ter sido convidada inúmeras vezes para representar as Pousadas de Portugal em eventos gastronómicos realizados em diversos países europeus e nos Estados Unidos da América.
Há cerca de oito anos aventurou-se no mundo empresarial e iniciou actividade em nome próprio. Fixou-se no sítio do Tesoureiro no Concelho de São Brás de Alportel, onde actualmente possui a sua fábrica. Esta tem vindo a crescer de acordo com as necessidades, algumas tarefas anteriormente realizadas manualmente, são já executadas por maquinaria, não retirando porém, qualquer qualidade ao processo de fabrico, assegura.
A base da sua produção centrou-se na doçaria regional, tendo como matérias-primas privilegiadas, os frutos que caracterizam o Algarve, nomeadamente a amêndoa, o figo, a alfarroba e a laranja. A forma como estes se envolvem com açúcar, farinha, mel, gila, ovos e outros ingredientes constitui o sucesso e excelência da doçaria algarvia, internacionalmente reconhecida.
Dentre o leque de produtos oferecidos por Mónica Guerra, além da doçaria fina algarvia, Dom Rodrigo e doces de amêndoa, destacam-se as tartes de amêndoa, de alfarroba, os morgados e as tortas de alfarroba com laranja ou com mel, estas últimas, sua própria criação. A experimentação e recriação de receitas são parte do segredo do sucesso desta jovem empresária, que aperfeiçoa agora um doce semi-frio de alfarroba. O até há pouco tempo desprezado, o fruto algarvio conquista cada vez mais valências e utilizações, ganhando contornos de excelência, certificação e marca de toda a região.
Os principais clientes da empresária são Restaurantes, espalhados um pouco por todo o Algarve, desde Cacela-Velha até Portimão. Há oito anos abriu portas com apenas 2 Restaurantes como clientes, hoje são mais de 100. O número de clientes superou todas as expectativas e cimentou-se em torno de conceitos que muito preza, qualidade e confiança.
Fruto da sazonalidade turística regional, é no Verão que o volume de trabalho aumenta. Nesse período chegam a trabalhar consigo cerca de 10 pessoas, nos restantes, o número de funcionárias reduz para metade. Curioso o facto da maioria destas serem estrangeiras, dando expressão à evidência que o desenvolvimento local e o empreendorismo no mundo rural algarvio vive da persistência e empenho de imigrantes que aí encontram trabalho e rapidamente apreendem os saberes que temos como nossos, preservando assim tradições, costumes e fazeres, tornando-os também um pouco seus. Doutra maneira desapareceriam.
Faz cada vez mais sentido o conceito “Glocal, pensar global, agir local”. Imaginem um turista inglês, que num qualquer restaurante algarvio, saboreia o melhor da doçaria regional, executada por imigrantes russas e ucranianas. É a globalização!
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